- Rosi Alves

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Atualizado: 14 de ago.
Um homem velho, baixo e arrogante. Documentos fraudulentos nas suas mãos desonestas. Um retrato vivo da doença do sistema governamental humano. “A lei não diz isso” ele argumenta, agarrando-se a qualquer brecha de palavra. Esquivo do ilegal, mas apanhado no imoral. Adorador de sua própria vantagem, pisa e esmaga o que se interpuser na sua ganância.
Por cima dos óculos sujos, encara com ardilosidade a moça para quem empurra os papéis. “Não aceito”, ela resiste. O homem, incapaz de alterar seu tamanho, ou mesmo para compensar sua pequenez física, que não lhe deve parecer tão imponente, aumenta tudo o que consegue: A voz, as palavras, a careta, os gestos. Inclina-se para a moça e, numa proximidade inadequada, profere qualquer coisa ofensiva que, de onde eu estava, não pude definir com exatidão o que era, mas percebi o sentido.
A expressão dela não se alterou. Manteve-se firme diante daquele ser indecoroso. Tirando o abuso e claro desconforto da situação, foi bonito de ver. Após os primeiros minutos, nós que observávamos e até a moça deixamos de lado qualquer temor da agressividade do velho e começamos a sentir pena. Não dele, mas da estrutura falida que aquilo representava. Pouco depois, achamos engraçado – eu pelo menos achei – a figura meio corcunda, movimentando-se com energia num terno maior que ele, teimando com o dedo torto pressionando a mesa, fantasiando sua grande autoridade.
No fim das contas, ele largou os documentos sobre a mesa e deu as costas. A moça ficou balançando a cabeça, frustrada com o acontecido. Os outros fizeram breves comentários de apoio a ela e retomaram a seu trabalho. Eu escrevi. Uma semana depois, encontrei o velho no corredor. Vinha novamente segurando papéis. Passou por mim ainda com os óculos sujos e, eu sabia, com as mãos e o coração também.