top of page

Fim de ano desperta na gente um ímpeto de recomeço. Sentimos vontade de mudança, ficamos mais questionadores, reflexivos. Eu não estou diferente disso. Mas minha inquietação é pontual. Até antiga, digo: Redes sociais. Faz tempo que me debato entre o desejo de dividir a minha arte e a cada vez maior sensação de desencaixe, desinteresse, superficialidade e perda de vida que me traz a experiência nessa sociedade virtual.

Sinceramente, não quero estar ali. Tomando essa constatação como partida, a pergunta óbvia é: Por que estou, então? Abri minhas gavetas de pensamentos e conceitos em busca da resposta. Reuni ideias de cá, umas teimosias de lá, arrastei do fundo do baú umas vontades empoeiradas e eis o que formulei: Eu entendo a rede social como um meio de compartilhar. Afinal, o que difere a foto postada da foto na memória do celular é que a primeira é para outras pessoas verem. Logo, eu posto o que quero que seja visto, no meu caso, arte.

 Até aqui, tudo simples, fácil, solucionamos a questão. Antes fosse. Uma vez dentro dessa máquina de exposição, percebemos que ela funciona muito além de mostrar, ela trabalha pra conquistar – Tempo, atenção, dinheiro, admiração, argumentos. Daí, vale tudo. Polêmica, dança, briga, piada, corpo, choro, vida, morte. O que era pra ser (no meu conceito pelo visto simplório) um álbum de fotos, se tornou uma janela, melhor dizendo, uma porta escancarada para debaixo da cama, para a cozinha, o banheiro e a gaveta de calcinhas. Quanto mais exposto, íntimo, confidente para o público, mais sucesso.

E Voilá, chegamos a outra parte de minhas resoluções. A palavra sucesso. Sendo a sua definição a que acabei de descrever, me pergunto se é algo que almejo. E a resposta nem precisa ser pensada: Não. Opto por não entrar no mérito de ser bom ou ruim, se alguém deriva disso alguma felicidade, vê motivos para sua defesa ou simplesmente aceita que essa é a realidade da nova era tecnológica, nada tenho eu com isso. Meu compromisso é comigo e com o que respeita minha autenticidade e a liberdade da minha arte. Eu não sou capaz de descaracterizar quem eu sou para caber num molde só porque é daquele jeito que vou ter mais visualização, atenção, dinheiro. Acho caro. Certamente, sei que se não pago o preço, não levo o produto. Assim sendo, não espero a tal viralização, fama e toda a parafernália tão cobiçada.

Então, depois de responder, mesmo sem perguntar, para o que eu não estou nas redes sociais, o que resta é o simples e velho mostrar. Aliás, compartilhar, pra usar um jargão mais apropriado. Partiu daqui, chegou aí, feito. Se vai chegar a 1 ou a 100, tanto faz. Quero que minha arte esteja disponível para ser vista. E assim, esta usuária da rede social formula seu posicionamento (termo comumente visto em postagens, seguido geralmente de uma lista de regras do que fazer). A minha é mais resumida: Ser eu.

 

Para realmente viver o que acredita é preciso consciência de que muito ficará para trás. Principalmente pessoas. Muito se fala sobre sentimentos, mas para quem realmente tem um ideal, afeição nenhuma lhe rouba os valores. Chamam de frieza, mas é só a justa coerência.

Emoções são efêmeras e exageradas. Nascem de um acúmulo de influências rápidas, que se dissipam tão facilmente quanto se formaram. Por isso, não há troca mais tola do que a de um valor medido e pesado, submetido a lógica e experiência por sentimentalismo.

Paixão, saudade, desejo, raiva... todos guias cegos de caminhos movediços. A sabedoria parte da honestidade consigo, do respeito ao raciocínio e da argumentação ética. As tentativas de fuga disso só provam a decadência resultante da traição de si. É pouco usual, o que talvez explique o fracasso da maioria das relações amorosas, mas o amor concreto não é o que acontece entre dois corações, mas entre duas mentes.

 

Está tudo bem. A vida não é extraordinária, mas também não é digna de queixa. Há comida, teto, ar e amor. Parece suficiente.  E se é assim, por que é que eu ando tão doente?

 
bottom of page