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Cá estou, diante da minha estante de livros, procurando pelo que ler. Ultimamente, tenho agido tal qual uma criança esfomeada que chega numa mesa de diferentes comidas e sai mordendo cada uma – sem terminar e nem se satisfazer. Nem esvazia o prato, nem enche a barriga, ou no meu caso, a cabeça.

 

Sentei-me a frente do computador, a página de escrita aberta, com o único intuito de discorrer sobre minha pequenez. O que é uma espécie de paradoxo, já que se me considerasse de fato tão irrelevante, nem escreveria sobre. Portanto, se quero falar algo, que no fundo não acredito de fato, devo falar não da pequenez, mas da hipocrisia. Ou até, de ego. Por que se falo da pequenez, não crendo nela, apenas aparentando a admissão da fraqueza para sugerir uma modéstia, se trata mais de orgulho do que de hipocrisia. Quem sabe, numa luz mais mansa, seja apenas medo. Pois se não me creio pequena, mas digo que sou, posso ter medo do que creio e então prefiro dizer o que é mais facilmente aceito; uma vez que a todos é mais bonito falar das fraquezas, que das lisonjas, já que a primeira desperta o sentimento de compaixão, empatia, identificação; e o segundo geralmente soa pretencioso. Pode, ainda, ser tudo. Uma confusão de hipocrisia, egocentrismo e medo. E o que são esses senão um belo conjunto de pequenezes humanas? E cá voltamos ao início. Talvez o certo mesmo era querer falar do sentimento do momento, sem a importância primária de defini-lo. Qualquer coisa ruim. Qualquer coisa sobre mim. Qualquer coisa sobre agora. Nem que seja algo pequeno.

 
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