top of page

Cinza Fumaça

Domingo a tarde, deitei-me na rede, abaixo do meu jovem pé de maracujá, para ler. Gosto desse ritual principalmente pela possibilidade de, nas pausas que faço para pensar, olhar o céu, que com suas cores e desenhos apura a minha digestão de ideias.

Hoje, porém, não havia alaranjado, amarelo, ou um tradicional azul sequer. Uma grande capa de fumaça cobriu o céu do centro-oeste. Nessa palidez, ideia nenhuma tomou forma. Nenhum barulho ou palavra foi possível.

 Na verdade, sempre achei que se o silêncio tivesse uma cor, seria essa. Cinza fumaça. Não um preto ou um branco, pois ambos possuem intensidade, solidez, firmeza. Já o cinza, um meio lá, meio cá dos dois, é um borrão, um quase, um enigma. Como a fumaça, que nem revela nem esconde as figuras, mas as disfarça, deforma, nubla. Como o silêncio, que tanto pode ser a ausência do que dizer, como a escolha de não dizer. Deixando no ar o peso da suposição de mil palavras. Sobrecarregando as interpretações e os pulmões. Feito fumaça.

Saudosa do meu céu, mas aberta às sensações do meu silêncio cinza, abri o livro na página marcada. E o título do texto da vez era: “Um pouco de silêncio”. Sorri. Acho divertidíssimo quando as coisas coincidem assim, como se tivessem feito um trato uma com a outra. Pra completar o cenário, um dos meus três gatos subiu na rede e se aninhou em mim. Não foi a tricolor, nem o amarelinho encardido de olhos azuis. Foi a cinza.

 

Posts recentes

Ver tudo
Uma Tarde de Gelato e Leitura

Sentir-me à mesinha da gelateria numa tarde quente de terça-feira. Abri o livro que estava lendo na inocente intenção de passar uma tarde...

 
 
 
O Livro da Vez

Cá estou, diante da minha estante de livros, procurando pelo que ler. Ultimamente, tenho agido tal qual uma criança esfomeada que chega numa mesa de diferentes comidas e sai mordendo cada uma – sem te

 
 
 

Comentários


bottom of page