Na Ponta da Memória
- Rosi Alves

- 28 de mai.
- 1 min de leitura
Atualizado: 14 de ago.
Eram umas 18:30 quando um cheiro me fez levantar os olhos do livro que lia e fitar o céu. Assim fiquei por um tempo, como quem vê alguém familiar na rua e se esforça pra lembrar de onde o conheceu. Havia qualquer coisa de familiar naquele cheiro. O céu me convidando a voltar a uma lembrança que não entendi claramente. Que agonia: O momento passado na ponta da língua, ou melhor, da memória, e ainda assim, desconhecido. Quanto mais sofria forçando a lembrança, mais o cheiro me provocava, atiçava, me paralisava o rosto virado pra cima, me roubava a atenção com autoridade e posse. Num gesto impensado, fechei o livro, determinada a dedicar-me inteiramente àquela busca. Um flash de eu criança apareceu na minha mente. Clara o suficiente pra reconhecer a figura, rápida demais pra identificar o preciso momento. O que fosse a origem daquele cheiro, certamente era antiga. O vento do início da noite diminuiu a intensidade do odor até dissipá-lo totalmente. Como uma passageira que se atrasa, vi minha condução do passado ir embora.
Comentários